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                         HISTÓRIA
                        DA ÁGUA DE ATIBAIA 
              
                      Os
                      historiadores que se debruçaram sobre o acervo ainda
                      encontrado, da história da fundação de Atibaia, e do
                      seu desenvolvimento territorial, político, sociológico,
                      e humano, nos trouxeram luzes de um passado grandioso.
                      Escrevendo sobre o homem, sem consciência talvez,
                      gravaram dados sobre a fauna, flora e riquezas do solo,
                      relatando o extrativismo como economia e a agricultura
                      primitiva, como meios de sobrevivência. Tomaram da pena,
                      e fizeram um trabalho científico sem precedentes. Com
                      base nesse acervo e na coleta de informações mais
                      modernas, tento um estudo das águas virtuosas de Atibaia,
                      da rica bacia do Rio Atibaia. 
                      No
                      último quartel do século XVII a famosa contenda entre as
                      famílias de São Paulo, os Pires e os Camargos, se
                      agravava ainda mais. Jerônimo de Camargo ficou em evidência
                      sendo nomeado Juiz Ouvidor, ocorrências assaz desagradáveis
                      e o ódio dos Pires provocaram sua fuga para o sertão.
                      Jerônimo saiu a procura de um lugar mais acolhedor para
                      se estabelecer, junto com seu irmão Claudiano
                      embrenharam-se na terra bruta, seguiram na direção norte
                      pela mata, atravessando o Sertão de Juquery, galgando as
                      duas Serras. Escolheu uma colina aprazível para ali
                      organizar uma fazenda. Demarcou os limites das terras : ao
                      sul uma pequena elevação, que da colina parecia
                      arredondada ; a sudoeste um grande maciço com um lajedo
                      no cimo, que denominou Pedra Grande ; ao norte o caudal do
                      Rio Atibaia, águas já conhecida das bandeiras que por
                      aqui abriram trilhas ; e a noroeste uma elevação que
                      dominava a paisagem (o Morro do Machado). Demandou de
                      volta para São Paulo, e retornou com todo o necessário
                      para começar a montagem da propriedade agrícola,
                      escravos africanos e índios. Cavalos e mulas, bois,
                      cabras, ovelhas, pombos e aves de terreiro.
                      
                       
                      Jerônimo
                      escolheu um lugar onde águas virtuosas se derramavam
                      serra abaixo, no território em redor se estendia uma
                      grande bacia, onde córregos engrossavam ribeirões,
                      afluentes do Rio Atibaia. E o Rio era piscoso.
                      
                      Em
                      1665, fugido de tribos hostis, apareceu o sertanista da
                      catequese padre Matheus Nunes de Siqueira [Ouvidor
                      da Vara Eclesiástica e grande amigo da família Camargo],
                      com seus índios Guarulhos, já egressos á civilização,
                      pedir proteção ao amigo Jerônimo. O Padre trazia num
                      oratório a imagem de São João Batista Menino. Erigiram
                      uma capela onde o Padre celebrou a Primeira Missa.
                      Organizando ali um Arraial, pouso de bandeiras. 
                      
                       
                      Jerônimo
                      de Camargo recebeu em visita o primeiro Padre Provincial,
                      em 1.687, que daqui levou de presente: “4 cambadas de
                      peixe salgado e 3 queijos, no valor de  480 réis”, como provisão de boca para a viagem de volta.
                      
                       
                      O
                      título de Freguesia veio em 1.747, Jerônimo de Camargo
                      havia se retirado daqui, porém deixara alguns de seus
                      descendentes. Foi ampliada a igreja de São João Batista
                      e dado o início da capela do Rosário pelos escravos.A
                      categoria de Vila veio no ano de 1.769, e instalou-se a Câmara
                      em 1.770. A água potável era trazida em curotes na cabeça
                      de escravas que faziam trabalhos domésticos e no lombo de
                      burros pelos escravos, época em que surgiu uma nova
                      profissão na Vila, os “pipeiros”, a entrega de água
                      em pipas sobre carroças. Para as primeiras construções
                      de taipa foram trazidas águas do Rio Atibaia.E construída
                      uma ponte sobre o rio.Organizou-se a rua principal, a Rua
                      Direita, da qual em cada ponta, havia um chafariz e um
                      bebedouro de cavalos e burros, primeiro indício de água
                      encanada nesta terra.
                      
                       
                      No
                      ano de 1.817 os naturalistas Martius e Spix, aqui fizeram
                      pouso [vindos
                      de Sorocaba onde foram inspecionar a fábrica de ferro],
                      e nos seus relatos se referiram á vila como “muito
                      pobre”. A famosa cocheira de Manuel Antonio de Carvalho
                      (para aluguel, troca de alimárias e estabulagem), no ano
                      de 1.820, tinha água corrente proveniente de uma tirada
                      d’água que para ali fora canalizada.
                      
                       
                      A
                      categoria de Cidade veio em 1.864, e denominou-se São João
                      Batista de Atibaia. De taipa e adobo surgiram os muros, do
                      poço doméstico era tirado a balde d’água para a
                      bilha. Os dejetos humanos sumiam na escuridão da fossa
                      negra das latrinas. Ao toque de recolher, badalava o sino
                      ás 21 horas.
                      
                       
                      Assentaram
                      máquinas de serrar madeiras movidas a água em 1.872, e
                      em 1.873 funcionavam 6 máquinas de beneficiar e enfardar
                      algodão, também movidas à roda de água. Um novo e mais
                      higiênico matadouro de reses, foi construído em 1.886,
                      servido de água do córrego Piqueri.
                      
                       
                      Um
                      movimento feito pelo primeiro jornal local “O
                      Itapetinga”, para a captação de água encanada da
                      Serra em 1.892, resultou numa concorrência 
                      da Câmara para a construção do encanamento [o
                      sistema era composto de uma adutora de ferro fundido de
                      5”, e um reservatório com capacidade para 600 m3,
                      apoiado, denominado Caixa do Rosário],
                      e sua festiva inauguração em 1º de Novembro de 1.985.
                      Em 11 de Novembro [com
                      solenidade de membros da Câmara],
                      foi aberta a primeira torneira (que jorrou o precioso líquido)
                      no chafariz do Largo Municipal (Praça Bento Paes) em
                      frente da Casa de Câmara e Cadeia (museu). No ano
                      seguinte foram instalados chafarizes em todas as demais
                      praças, inaugurados com Banda de Música, um a um.
                      
                       
                      O
                      sistema de distribuição da rede de água revelou-se
                      suficiente para a época, os canos de ferro eram de
                      diversos diâmetros, 2²
                      a ½²,
                      ou de maior diâmetro. A água era largamente desperdiçada,
                      não havia hidrômetros, a taxa era ínfima, deixava-se um
                      fio de água por uma noite inteira para curtir laranja
                      azeda, para se fazer doce, ou um jorro d’água um dia
                      inteiro para matar olheiro de saúvas, até que surgissem
                      á tona, formigas mortas. 
                      
                       
                      Atibaia
                      chegou ao ano 1.900 com 6.000 habitantes, e teve a História
                      da Água, acelerada [com
                      alguns preâmbulos],
                      mas, exótica, na modernidade.
                      
                       
                      A
                      descoberta de uma mina de água com 30 % de ferro no sítio
                      de João da Silva, no bairro Cachoeira veio provar, em
                      1.904 que nossas águas são virtuosas. A Câmara iniciou
                      a construção de primeira caixa d’água para abastecer
                      o Grupo Escolar que estava sendo construído. Para o serviço
                      de cantaria foi contratado o competente Polydoro Saldanha.
                      O Grupo foi inaugurado com grande festividade (desfile,
                      banda e baile) em 1.905.
                      
                       
                      No
                      mesmo ano no distrito de Campo Largo (hoje Jarinu), o
                      italiano Júlio Zanoni aproveitando-se do melhoramento da
                      vila (instalação de luz elétrica), assentou uma máquina
                      de beneficiar café a vapor, e no Largo da estação de
                      trem de Atibaia (situada em Caetetuba), registrou-se a notícia
                      do fato pitoresco que acontecia em volta do bebedouro de
                      animais daquele Largo, onde a água era trazida em pipas
                      transportadas em carroças : “no Largo da Estação se
                      acumula grande movimento de carga e descarga, de carroças,
                      carros de boi e tropas de mulas, que por causa da estação
                      das águas está um perfeito atoleiro, de dar pena aos
                      tropeiros, que trabalham naquele brejal. – 1.906.
                      
                       
                      O
                      ano de 1.907 parecia ser mais venturoso, o engenheiro hidráulico
                      doutor Paulo Castellan D’Orleans iniciou uma pesquisa
                      para maior exploração das nascentes da Serra Itapetinga.
                      Na noite de Natal desse mesmo ano foi inaugurada, na Missa
                      do Galo, a energia elétrica de Atibaia, com a igreja
                      iluminada com 270 lâmpadas. A inauguração da Fábrica
                      de Tecidos São João com pompa inusitada revelava ser o
                      primeiro grande estabelecimento industrial da região.
                      Tinha a Fábrica um duto de água especial fornecido pela
                      Caixa D’Água da cidade, para suprir a sala de tintura
                      de tecidos.
                      
                       
                      A
                      Rua Cel João Pires só ganhou seu chafariz em 1.910, numa
                      travessa além da Fábrica, e a Câmara mandou que se
                      colocasse um poste com 3 lâmpadas, para alumiar as
                      torneiras dos usuários da noite.
                      
                       
                      Com
                      autorização da Câmara, o Prefeito, mediante a quantia
                      de 200 contos de réis, contratou uma firma idônea para
                      iniciar a rede de esgoto da cidade[seria
                      cobrado o juro de 6 % ao ano, a pagar no prazo de 30 anos],
                      preparando assim a cidade para receber o novo encanamento
                      de água da Serra (ano 1.911), e estando já os tubos
                      distribuídos desde as nascentes até a cidade.
                      
                       
                      1.912
                      foi marco importante na História da Água, a construção
                      da Santa Casa [por
                      iniciativa da benemérita Anna Pires Soares (que concorreu
                      com o terreno e mais 100 contos de réis) e de toda a família
                      Pires de Camargo],
                      instalando-se desde o início da construção a água
                      encanada e potável. 1.913 marcou o evento da remodelação
                      da rede de água da cidade. Até essa data, somente os prédios
                      municipais, escolas e hospital, tinham água encanada –
                      de extrema necessidade ou de fazendeiro rico – eram
                      servidos da rede de água, que era trazida da Caixa D’Água.
                      Aos 16 de fevereiro iniciou-se a substituição dos canos
                      velhos, por canos de maior capacidade, e melhor distribuição
                      em toda a cidade. No mês de junho iniciou-se a construção
                      da rede de esgoto da cidade, pois se temos a chegada da água
                      em nossa casa, teremos que ter sua saída.
                      
                       
                      O
                      Serviço Sanitário municipal, em 1.919, publicou o
                      seguinte boletim (relacionado ao ano de 1.918) – “Nas
                      549 casas visitadas, foi encontrado 1 casa com caixa de
                      privada estragada e 7 casas com torneiras quebradas, 4
                      casas tinham os canos d’água entupidos e sem água.”
                      Nesse mesmo ano foi construída a cobertura da Caixa D’Água,
                      necessidade que preocupava a população. A escassez de água
                      teve suas primeiras conseqüências em 1.934,
                      verificando-se que os mananciais da Serra já estavam
                      absoletos.
                      
                       
                      Depois
                      de terminada a II Guerra, Atibaia atraiu novos moradores
                      que procuravam seu ar salubérrimo, décadas [com
                      início em 1.940, e agravando-se em 1.946],
                      a população da cidade voltou a procurar as bicas dos
                      arredores da cidade. A calamidade foi se avultando, a água
                      sumiu das torneiras. As bicas famosas eram as, do Morrão,
                      da Vila Junqueira (onde surgiria o Ginásio), do Rosário,
                      da Linha do Trem. Em Caetetuba também se encontraram boas
                      águas. Novamente surgiu a profissão de “aguadeiro”,
                      mas muito pouco remunerada, quem buscava garrafões ao
                      ganho recebia alguns centavos.
                      
                       
                      A
                      calamitosa situação chegou ao auge em 1.963. Em Agosto
                      de 1.964, iniciou-se a obra do sistema de captação de água
                      do Rio Atibaia, sobre protestos dos conservadores e dos
                      escrupulosos. Setembro desse mesmo ano foi doado pelo
                      Governo do Estado de São Paulo, o equipamento para a
                      construção da Estação de Tratamento de Água – ETA,
                      e no mesmo período a construtora Probeco realizou obras
                      no sistema de esgoto. Do Departamento de Obras Sanitárias
                      surgiu o Departamento de Água, até então ligado à
                      estrutura da Prefeitura. 
                      
                       
                      O
                      Serviço Autônomo de Água e Esgoto da Estância de
                      Atibaia – SAAE, foi criado em 18 de Junho de 1.969,
                      tendo como o seu primeiro diretor o químico Jair Chaves
                      Russomanno. O início do seu funcionamento foi em data de
                      2 de Janeiro de 1.971.
                      
                       
                      
                      ATUALIDADE
                      DO TRATAMENTO DE ÁGUA DE ATIBAIA. 
                      
                       
                      Com
                      o crescimento acelerado de Atibaia, foi necessário
                      reaproveitar a primeira ETA, existente, que estava
                      desativada, e em 27 de Janeiro de 1.979 foi ela
                      reinaugurada, passando a chamar-se ETA II. 
                      
                       
 
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